O uso de técnicas matemáticas em economia não é um fato realmente novo. O fim da segunda guerra mundial acelerou esse processo e tem como marco inicial a publicação do livro The Theory of Games and Economic Behavior em 1944, por John Von Neuman e Oskar Morgenstern. Quando trazemos isto ao mercado de ações, uma das técnicas aplicadas para tentar entender o comportamento de um ação é o movimento browniano.
Uma definição é que o movimento browniano é o movimento aleatório de partículas num fluido (líquido ou gás) como consequência dos choques entre todas as moléculas ou átomos presentes no fluido. E o que tem a ver o mercado de ações com isto? Muita coisa! Imagina que o comportamento dos agentes de mercado não pode ser predito e que também não é possível calcular todas as interações possíveis entre eles. O que nos sobra? Uma consequência de choques de todas as decisões tomadas pelos agentes, análogo à definição dos choques entre moléculas e átomos (os agentes) presentes no fluído (mercado de ações). Isto também vai em linha com a teoria do Passeio Aleatório ou Random Walk. Ela afirma que não é possível prever o futuro com base nos dados do passado (em linha com a teoria de mercados eficientes), ou seja, não quer dizer (por exemplo) que pelo fato do preço da ação ter aumentado hoje, ontem, ou em outro período que esse preço irá aumentar amanhã também, pois o mercado funciona de maneira irracional portanto o preço de uma ação seria imprevisível (assim como o movimento de uma molécula em um fluído). Desde sempre, a maioria dos investidores acredita que é possível predizer os preços de um ativo financeiro e que esta é a única maneira de ficar rico. A grande questão é que a maioria dos investidores vai, no máximo, performar igual à média do mercado. A teoria do mercados eficientes postula que as análises técnica e fundamentalista não podem ser usadas como modo de ter lucros consistentes no longo prazo. A única forma de vencer o mercado é tendo uma vantagem sobre ele, algo que é sabido apenas por você e por mais nenhum outro investidor. Por isso não se deve acreditar em "ferramentas milagrosas" que prometem lucros acima da média do mercado. Nem mesmo um fundo de investimento irá conseguir superar o mercado no longo prazo, salvo se seu gestor tiver esse "algo a mais". Postos estes argumentos, o vídeo a seguir abre espeço para o debate e prova (?) de que a análise técnica, por exemplo, não faz sentido algum quando consideramos a teoria dos mercados eficientes. Adicionalmente, recomendo a leitura deste livro para entender melhor este conceito - A Random Walk Down Wall Street - The Time-Tested Strategy for Successful Investing Um abraço e até o próximo post!
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How I Turned a Dollar into a Million in Twenty Days Working Thirty Seconds a Morning*
A expressão acima se assemelha a muitos livros, títulos de vídeos e promessas milagrosas que existem por aí. Eu a pego emprestada de um discurso feito por Warren Buffett em 1984. A expressão com tradução livre - Como eu fiz 1 dólar virar 1 milhão em vinte dias trabalhando apenas 30 segundos pela manhã - foi dita no contexto em que Buffet pediu à sua platéia que imaginasse todos os 225 milhões de americanos (na época) apostando 1 dólar em cara ou coroa após um lançamento de uma moeda. Os que perdessem a aposta seriam eliminados imediatamente e seus dólares seria dados aos que acertaram a aposta. No dia seguinte, o jogo continuaria com o que sobraram e a aposta não seria mais de 1 dólar, mas sim dobrada, de 2 dólares. Novamente, os perdedores seriam eliminados e os ganhadores terminariam o seu dia com 4 dólares (os seus 2 iniciais mais os 2 dos perdedores). Se o jogo seguisse esse raciocínio por 20 dias, cerca de 215 pessoas restariam jogando ao vigésimo dia. Cada uma teria então 1 milhão de dólares!
Eis que então ele disse a frase do início deste post. Segundo ele, provavelmente alguns dos vencedores escreveriam livros descrevendo seus "métodos" e o título seria: How I Turned a Dollar into a Million in Twenty Days Working Thirty Seconds a Morning. E nesta altura do campeonato começam as falácias. Alguém pode argumentar que se não fosse possível, como é que existem 215 pessoas que o fizeram?
E se essas pessoas fossem substituídas por macacos? O resultado seria quase o mesmo: muitos macacos com 1 milhão de dólares. Então, Leandro, você está nos dizendo que foi apenas sorte. Sim, neste caso da anedota contada por Warren Buffett. E em um exemplo real? Seria também muito parecido. Em seu livro "A lógica do cisne negro", Taleb menciona que a aleatoriedade, chance e sorte influenciam nossas vidas muito mais do que imaginamos e que nós tentamos sempre explicar as coisas sobre a ótica de causa e efeito, mas nos esquecemos que correlação não necessariamente implica em causalidade. Ou seja, minha vida é conduzida pela sorte? Bem, sim e não. Trabalhar duro, se dedicar, estudar e ser uma pessoa correta sem dúvida alguma aumenta suas chances na vida, assim como ter e saber usar alguma habilidade em particular que você tenha. Mas sempre existirá um componente aleatório em tudo isso. Por que não existem tantos Warren Buffetts, Bill Gates ou quaisquer outros exemplos de pessoas super bem sucedidas em suas áreas? A parte qualquer talento que eles tenham (e com certeza possuem), o contexto de vida deles foi único em um dezena de gerações. Claro que nem tudo é sorte ou aleatoriedade, mas as coisas são bem mais aleatórias do que imaginamos. Durante nossas vidas em algum período vamos experimentar uma sequência arrasadora de eventos bem sucedidos. Vamos atribuir isto a Deus, a nós mesmos, a alguém, não importa. Isto será apenas um caso fora da curva. Do mesmo modo em que ao menos alguma vez podemos enfrentar uma sequência de situações ruins. Focando na pessoa "sortuda", ela vai nos parecer que por algum momento está fazendo algo de excepcional. Provavelmente sim, mas talvez essa não seja a única razão para o sucesso. Este é o famoso ditado "estar no lugar certo, na hora certa". É claro que não adianta em nada ter uma oportunidade e não aproveitá-la, não administrá-la bem. Isto significa conseguir maximizar a sua sorte mas, no fim do dia, é apenas saber como enfrentar uma série de eventos sorte e/ou de azar. A grande questão de tudo isso é que algumas pessoas se aproveitam destes "casos de sucesso" e os transformam em verdades absolutas. Ou pior, tentam vender fórmulas mágicas para o sucesso. Não existe almoço grátis! Fuja destes livros com fórmulas rápidas de como ganhar dinheiro, ou que contam o "segredo de fulano para enriquecer rapidamente". Se inspirar em histórias de sucesso é uma coisa...ser enganado por promessas é outra. As pessoas geralmente não atribuem a aleatoriedade ao seu sucesso, mas certamente a atribuem aos seus fracassos. As coisas são baseadas em tantos acontecimentos que é praticamente impossível entender todas as variáveis envolvidas no processo ou ter o controle sobre tudo o que está acontecendo. Se alguém é cético o bastante para se convencer que a vida não possui algum tipo de sorte, jamais será impossível entender o que fazer quando ela passar pela sua frente. Fechando o raciocínio com Tiger Woods - "Quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho". Sim, sua vida será conduzida pela sorte. Ela será mais uma variável dentre muitas, mas não a negligencie. Um abraço e até o próximo post! Referência: Warren Buffett discussed the success of Graham’s superinvestors in a 1984 - “The-Superinvestors-of-Graham-and-Doddsville“
Contanto que você não consiga predizer algum evento, o mesmo é considerado aleatório. Mas, será? O que faz algo ser (ou parecer) realmente aleatório? A ausência de um padrão específico? A incapacidade de predizer qual sará o próximo acontecimento?
Nós, humanos, temos um desejo quase que incontrolável de encontrar ordem ou algum padrão nas coisas. Nosso processo evolutivo garantiu ao cérebro uma capacidade fantástica de classificar coisas: desde reconhecer o rosto da sua mãe desde seu nascimento até saber em quem você pode confiar ou não (!?). Independente do que aprendemos a classificar ou não, o grande ponto é que somos muito ruins em lidar com a ausência de padrões. No post Previsão de Eventos Raros e Crises Financeiras deixamos em aberto a pergunta "como calcular a probabilidade de ocorrência de 17 "caras" seguidas se isto jamais aconteceu?" Você acha que o lançamento de um dado ou embaralhar um baralho são eventos aleatórios? Talvez não. O lançamento de um dado é governado por leis matemáticas específicas e se soubéssemos exatamente a força de lançamento, a direção do vento, o atrito com o ar, posição inicial do dado, o ângulo de lançamento, o ponto de atrito com a superfície e todas as demais variáveis envolvidas, seria absolutamente possível prever qual seria o resultado do lançamento. O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao baralho e ao trading. Então, possivelmente aleatoriedade não existe - e nem mesmo livre arbítrio - uma vez que tudo é resultado de uma combinação de acontecimentos anteriores e, a mudança de qualquer um deles, faz com que tenhamos uma resposta totalmente diferente. Qualquer alteração nas condições iniciais do lançamento do dado influenciará o resultado final. Você parar para arramar seu tênis pode impedir que você seja atropelado minutos depois ou fazer com que o amor da sua vida trombe em você - o tão famoso efeito borboleta. Se as coisas são assim no dia a dia, porque seriam diferentes no mercado financeiro? Ao olhar um gráfico de um ativo qualquer, a primeira coisa que acontece é cair na tentação de achar um padrão nos preços. Como nosso cérebro é uma bela máquina de classificação, encontramos diversos deles já nos primeiros 5 minutos olhando o gráfico...ainda temos aqueles que dizem: se olhar o gráfico e em menos de 1 minuto eu não achar nada, é porque não há nada a fazer! De fato, é muito fácil olhar para um gráfico já desenhado e achar um monte de coisas que "parecem ter acontecido dado que outras aconteceram", ou melhor dizendo, os famosos padrões da análise técnica. Difícil mesmo é tentar encontrar estes mesmos padrões "em tempo real", ao vivo, enquanto o gráfico está se formando. (Relembre nosso vídeo Quero ver apertar o botão - sobre a análise de retrovisor). Aí o negócio é diferente e os "homens são separados dos meninos". Tudo o que aconteceu no gráfico passado foi consequência de eventos passados, alguns que ninguém mesmo saberia que aconteceria, outros já parcialmente esperados e todas as consequências dos demais - lembre-se do efeito borboleta descrito acima. Tudo o que vai acontecer deste segundo para frente ainda sofrerá a influência da velocidade de resposta aos eventos que estão acontecendo, o que outras pessoas estão vendo no mesmo gráfico e as consequências de outras possíveis infinitas variáveis. Qualquer alteração no preço agora influencia tanto o que pode acontecer no futuro que qualquer previsão de longo prazo é praticamente impossível, partindo do princípio que não conhecemos todas as variáveis envolvidas. Esta discussão nos aproxima da teoria do caos, definida em uma frase: sistemas considerados dinâmicos são extremamente sensíveis às suas condições iniciais. Um exemplo pessoal: Uma das causas da crise de 2008 foi a redução de juros nos EUA para perto de zero, pelo então presidente do FED Alan Greenspan, para conter um efeito em cadeia causado pela crise .com, a bolha das empresas de internet no início dos anos 2000. A crise de 2008 fez com que a oferta de trabalho e o salários nos EUA reduzissem, fato que me fez escolher um outro lugar para fazer meu intercâmbio. Este "novo" lugar era perto de uma região de montanha, onde fui um dia esquiar pela primeira fez e quebrei o joelho! Ou seja teria eu quebrado o joelho por causa da bolha das empresas .com? Enfim, aleatoriedade existe ou não existe? Como tudo na vida, depende! Ao olhos da física clássica, não. Já ao olhos da física quântica pode ser que sim. O universo das partículas subatômica é completamente diferente da física de Newton. Com toda essa história de aleatoriedade, classificação e relações de causa e efeito, deixamos então uma pergunta em aberto para o próximo post: A análise técnica é uma falácia? Um abraço e até o próximo!
Eventos raros são por definição eventos que acontecem poucas vezes, com baixa frequência. Exemplos clássicos da literatura são fenômenos naturais expressivos como grandes tsunamis, terremotos e o impacto de um asteroides...Mas, sem dúvidas, o nosso evento raro preferido são as crises financeiras. Eventos raros exercem tanto fascínio não por serem raros mas por serem difíceis de prever, fazendo com quem o faça - por pura sorte ou não - seja o próximo grande guru por alguns meses...
Usei propositalmente o termo "sorte" pois segundo a hipótese dos mercados eficientes, qualquer crise financeira é praticamente impossível de ser prevista...logo, é praticamente impossível ganhar dinheiro tentando prever o que vai acontecer no mercado. Quando se acerta, nada mais é do que uma coincidência de fatos. Um ponto interessante aqui é que talvez jamais seja possível prever exatamente quando uma crise vai acontecer, mas é possível entender que uma crise é iminente com um certo grau de probabilidade - o que sempre nos traz um certo grau de incerteza também. O problema das pessoas está em ignorar o grau de incerteza e achar que apenas uma elevada probabilidade é uma "garantia" de ocorrência de um determinado evento. Você jogar uma moeda 100 vezes te dá uma elevada probabilidade de acontecer uma determinada quantidade de "caras" - próxima a 50% - mas nada impede você de ter 100 "coroas" na sequência. Ok, é raro, mas nada o impede de acontecer. Vamos fazer um teste prático. Uma simples simulação de 1000 vezes o lançamento de uma moeda, utilizando o Microsoft Excel (longe aqui de ter um debate se a função ALEATÓRIO é aleatória e sobre o que é aleatoriedade), nos mostra no gráfico a seguir uma ideia do que pode acontecer. Neste exemplo, em 1000 "lançamentos", ocorreram 2 vezes uma sequência de 15 caras (máximo valor obtido) e em 16 vezes tivemos uma sequência maior do que 10. O que concluímos disso, e o que isso tem a ver com investimentos ou trading? O primeiro ponto é o fato mais ignorado pelos iniciantes: "ah esse papel já subiu demais, está subindo há 10 dias...vai cair". Como vimos acima no exemplo da moeda, se a moeda fosse um ativo e a "cara" fosse um dia de alta, vimos que o papel teria subido "15 períodos seguidos" por 2 vezes durante um intervalo de 1000 períodos (lançamentos). Fora as 16 vezes em que tivemos mais de 10 hipotéticos dias de alta. Isto nos leva ao segundo ponto: é possível lucrar com isso? Sim, mas sem jamais negligenciar o fato de que podemos ter uma única vez em uma leva de mil, 15, 20, ou 30 altas seguidas. Mas seu risco x retorno, ou seja, o quanto vale a sua aposta fica mais interessante. É garantido? Jamais...principalmente se os eventos forem independentes, como o lançamento de uma moeda...mas nos mercados, onde provavelmente todos estarão "de olho" no mesmo evento e tentando antecipar o que vai acontecer, temos o efeito da profecia auto-realizável. Isto provaria mais uma vez a eficiência dos mercados e sua impossibilidade de previsão. Qualquer um pode tentar prever alguma coisa...mas levar este indivíduo a sério é outra conversa. Por fim, o terceiro e último ponto é que crises são impossíveis de serem previstas, uma vez que são exemplos fora de qualquer amostra...jamais aconteceram, então seria impossível tentar prever o que jamais aconteceu...simplesmente seria impossível calcular a probabilidade. Voltando ao nosso exemplo dos 1000 lançamentos, como calcular a probabilidade de ocorrência de 17 "caras" seguidas se isto jamais aconteceu? Posts relacionados: Introdução à probabilidade no Forex Somos todos apostadores Um abraço e até o próximo post! |
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