Hora ou outra, é comum em contextos informais, fora do âmbito acadêmico a atribuição da ciência econômica a uma ciência natural, exata por natureza e passível de predições (pelo menos em parte) a partir de análises estatísticas ou grafistas.
De fato, a estatística e mais especificamente a econometria, vem sendo uma importante ferramenta para análise das variáveis econômicas. Tais ferramentas dão um norte ao agente econômico e possibilitam a partir de dados históricos criar modelos para prover aproximações (com uma determinada porcentagem de confiabilidade) sobre a realidade. Porém, a economia é uma ciência puramente humana e incerta por natureza. Qualquer modelo, por maior que seja seu R² (coeficiente de determinação) está exposto a falhas intrínsecas a natureza incerta da ação. O que se vê hoje em dia na base comercial de muitas empresas do mercado financeiro é a venda da ideia de que tais modelos são infalíveis, alguns com uma índole questionável e outros por pura ignorância em relação ao mercado. De fato, não é difícil encontrar traders iniciantes que acreditam que o que os separa de altíssimos ganhos é apenas a falta de conhecimento sobre análise gráfica. Por que a economia é sobre a ação humana? Ludwig Von Mises foi o primeiro economista a tratar a economia sistematicamente como uma ciência derivada da Praxeologia (estudo da ação humana). A economia para ele consiste no estudo da ação humana quando na busca da melhor alocação dos meios econômicos. Isso equivale a dizer que qualquer fenômeno econômico só pode ser explicado a partir da compreensão da soma do juízo de valor dos agentes econômicos individuais na tomada de decisão. Tal análise, portanto, leva inevitavelmente a fatos irredutíveis. É extremamente complicado matematizar variáveis econômicas que dependem de um juízo de valor extremamente complexo explicado em partes apenas pela neurociência. Qualquer mercado é um processo dinâmico e contínuo de forças individuais - maiores e menores em grau - compradoras e vendedoras formando os preços de mercado. Portanto, para entendermos de fato porque o Ibovespa fechou em baixa em um determinado dia não basta explicações sensacionalistas típicas do noticiário de finança como “Aversão ao risco com exterior derruba Ibovespa abaixo dos 85 mil pontos”. Precisamos olhar para o juízo de valor complexo por natureza e que determina a ação de cada força impactante no movimento dos preços. Uma aversão ao risco do exterior pode explicar em partes um movimento de preço, caso tal aversão influencie no juízo de valor (nas ações) de muitos agentes econômicos participantes de determinado mercado. Quero dizer, caso um noticiário negativo tenha poder de impactar a valoração e logo a ação de uma grande quantidade de agentes, seja por aversão ao risco, por tentativa de acompanhar a tendência do mercado ou por qualquer outro motivo subjetivo, tal notícia pode explicar uma parcela significativa da variação de preço. Porém, fundamentalmente, tal dinâmica é explicada somente a partir da ação humana. Sendo assim, cada vez mais a economia tange áreas voltadas para a compreensão da tomada de decisão humana e cada vez fica mais difícil dissociar a fisiologia da mente da dinâmica econômica. Áreas como finanças comportamentais, psicologia e neurociência nunca tiveram tanta importância na ciência econômica como nas últimas décadas. Cabe aos analistas e assessores no mercado, fazerem o uso correto tanto da estatística (dentro das suas limitações) e de análises praxeológicas, psicológicas e das finanças comportamentais para a tentativa de antecipação da dinâmica de mercado. Afinal, entender o grau de complexidade de um determinado evento e as limitações de sua análise já te deixam um passo a frente dos oportunistas que acreditam ser dotados de bolas de cristal. Matheus Dutra Graduando em Economia pela PUC-SP. Especialista em Investimentos pela Anbima, certificado CEA.
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December 2023
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